A carne bovina registrou queda de 0,43% em agosto, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do recuo pontual, os preços permanecem elevados em comparação com anos anteriores e a expectativa de especialistas é de que voltem a subir nos próximos meses.
Nos últimos 12 meses, a carne bovina acumula inflação de 22,17%, com destaque para cortes populares, que foram os que mais encareceram. O acém, por exemplo, teve alta de 29,1%; o peito, de 27,4%; e o músculo, de 24,6%.
Inflação acumulada por corte (12 meses – IBGE):
- Acém: 29,1%
- Peito: 27,4%
- Músculo: 24,6%
- Paleta: 24%
- Costela: 23,6%
- Alcatra: 23,5%
- Lagarto comum: 23%
- Patinho: 22,1%
- Chã de dentro: 21,7%
- Contrafilé: 21,4%
- Capa de filé: 21,4%
- Lagarto redondo: 19,8%
- Filé-mignon: 19,1%
- Cupim: 17,2%
- Fígado: 15,6%
- Picanha: 12,1%
Exportações em alta mantêm pressão
Um dos principais fatores que explicam a manutenção dos preços altos é o ritmo forte das exportações brasileiras. Mesmo após o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o setor conseguiu se reposicionar no mercado internacional.
Em agosto, os EUA caíram da segunda para a quinta posição entre os maiores compradores, atrás de China, México, Rússia e Chile. O México se destacou: de janeiro a julho, o Brasil exportou três vezes mais carne para o país em relação ao mesmo período de 2024.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) prevê que as exportações brasileiras em 2025 sejam 12% maiores que no ano anterior.
“O tarifaço afetou nossa exportação para os Estados Unidos, mas rapidamente o Brasil encontrou novos mercados”, explicou Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados.
Com parte da produção voltada para fora, sobra menos carne para o mercado interno, o que sustenta os preços.
Projeção de alta nos próximos anos
De acordo com analistas, a tendência de pequenas quedas na inflação da carne deve ser revertida no último trimestre de 2025, período em que o consumo aumenta devido às festas de fim de ano e ao pagamento do 13º salário.
Outro fator é a expectativa de queda no número de bois abatidos em 2026 e 2027, o que deve reduzir a oferta.
Cesar de Castro Alves, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA, lembra que os Estados Unidos também enfrentarão queda na produção, estimada em 2,3% em 2025 e 4,1% em 2026.
“Quando o Brasil tiver uma oferta menor de gado, os EUA também estarão em escassez, o que reforça a expectativa de preços em alta”, destacou.
Carne para poucos
Com a renda estagnada e os preços em disparada, a carne bovina vem se tornando menos acessível para grande parte da população.
“A carne subiu muito mais que os salários. Mesmo com quedas recentes, o consumidor continua sentindo no bolso”, disse André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na avaliação de Fernando Iglesias, o cenário é global: a carne bovina tende a se tornar um produto de consumo concentrado nas camadas de maior renda.
Com isso, proteínas alternativas como frango e carne suína, mais baratas e também nutritivas, devem ganhar ainda mais espaço na mesa do brasileiro.
Informações: G1