No Brasil, o inverno começa oficialmente em 20 de junho, mas as baixas temperaturas que atingem diversas cidades de Minas Gerais desde o fim de abril já acendem o alerta para as síndromes respiratórias. Neste ano, até 7 de maio, o Estado contabilizou 29.723 internações causadas por enfermidades como pneumonia, gripe, sinusite, Covid, entre outras, o que levou o governador Romeu Zema (Novo) a decretar situação de emergência em saúde pública, válida por 180 dias.
Publicada em edição extra do jornal “Minas Gerais” no último dia 2, a deliberação reconhece que a capacidade de assistência da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) tem atingido o limite em diversas cidades. A situação levou Belo Horizonte e ao menos três cidades da região metropolitana (Betim, Contagem e Santa Luzia) a também declarar a emergência.
A ampliação da campanha de vacinação contra a gripe para toda a população foi outra medida adotada para combater o crítico cenário epidemiológico nas cidades, à exceção de Santa Luzia.
A situação é grave, já que a doença pode evoluir para óbitos, principalmente entre os idosos. Em Minas, no ano passado, dos 370 hospitalizados com mais de 60 anos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – causada pelo influenza, o vírus da gripe –, 76 morreram, quase um a cada cinco casos (confira a situação do Estado abaixo).

Outro dado alarmante sobre a doença especialmente nessa faixa etária é que o número de mortes por gripe cresceu muito de 2023 para 2024: em BH, a alta foi de 450%. Houve elevação também no Estado, de 375%; e no Brasil, de 179%.
Motivações. Esse cenário é reflexo da adesão aquém do necessário da população à Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, segundo o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Essa baixa procura ocorre muito por conta dos ‘negacionistas de plantão’, que disseminam falsas notícias (sobre a segurança e eficácia da vacina)”, disse.
A chegada de cepas mais agressivas do vírus ajuda a piorar a situação, acrescentou a médica Maria Rita Rassi, mestre em saúde pública e professora da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh). Para combater esse aumento, ela propõe a realização de “campanhas de vacinação mais eficazes”, com o combate à desinformação; e a ampliação da cobertura vacinal, com acesso mais facilitado aos imunizantes.
Questionado pelo Super Notícia sobre a possibilidade de a imunização ser feita também em escolas, medida defendida por especialistas para elevar a cobertura vacinal, o Estado não havia retornado até o fechamento da edição (veja dicas de prevenção aqui).
Imunização segue abaixo da meta
Em BH, a quantidade de mortes de idosos que se internaram por gripe subiu 450% – de quatro, em 2023, para 22, no ano seguinte. A letalidade (número de mortes em relação a quantidade de doentes) subiu de 23,1%, em 2023, para 24,1%, em 2024.
“Podemos associar esse aumento, realmente significativo, às coberturas vacinais. Ou seja, a gente precisa reforçar que a população se vacine, pois a gripe é uma doença prevenível e tem vacina”, afirma Hoberdan Oliveira Pereira, gerente de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Belo Horizonte.
De fato, há baixa adesão à vacina (a taxa de imunização estava em 35,9% no último dia 12, após mobilização do dia D de vacinação), enquanto a meta é chegar a 90%. Pereira cita outro fator como explicação para o aumento dos números: “As condições do clima, temperatura, tudo isso pode impactar, de um ano para o outro, as internações”.
Família perdeu a matriarca
“A gente vai lamentar isto para sempre. Deveríamos ter pegado na mão dela e a levado ao posto para receber a vacina”. Cheia de pesar e saudade, a declaração é de Alexandra Aguiar, de 49 anos, filha de Efigênia, que faleceu aos 68, em abril do ano passado, por complicações da gripe.
Viúva e aposentada, a matriarca da família tinha boa saúde e gostava de cuidar da horta e da própria casa, em Itaguara, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde morava com Alexandra, uma das cinco filhas. A idosa costumava ir ao posto de saúde perto de casa para tomar as vacinas e se consultar quando precisava. No entanto, por descuido, a idosa não foi buscar o imunizante contra a doença causada pelo vírus influenza e estava com a vacinação atrasada.
Em março de 2024, Efigênia acabou gripando, mas a enfermidade não foi bem curada, e a idosa teve pneumonia. “Mãe era forte, não reclamava de dor de nada. Mesmo com sintomas de gripe, não reclamava. A gente deveria ter insistido mais. Ela ficou gripada, não curou, (a doença) virou pneumonia, e ela não resistiu“, contou Alexandra, que é atendente de padaria.
‘Surto’. O governador Romeu Zema (Novo) reconheceu que o Estado está passando por um surto. Em momento de alta repentina dos casos e sobrecarga do sistema de saúde, a região metropolitana de BH registrou, nos últimos dias, a morte de uma menina de 1 ano que aguardava a liberação de um leito em um hospital.
Fonte: O Tempo