Na manhã desta quinta-feira (08), a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, realizou uma coletiva de imprensa para divulgar os detalhes da prisão de quatro indivíduos investigados no inquérito policial que apurou o assassinato de Welington de Souza Lima, de 47 anos. O crime ocorreu em 6 de março de 2024, no bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra.
Welington de Souza Lima
A coletiva de imprensa, realizada na Chefatura de Polícia Civil, em Vitória, contou com a presença do delegado-geral da PCES, José Darcy Arruda, e do chefe da DHPP da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori.
O delegado Rodrigo Sandi Mori iniciou a coletiva detalhando a complexidade do caso, marcado pela violência e ousadia dos criminosos, que efetuaram 79 disparos de armas de fogo calibres 9mm e .40 contra o veículo da vítima, atingindo-a 27 vezes e causando sua morte no local.
Segundo o delegado, a investigação, que durou um ano e dois meses e culminou em três volumes de inquérito, demandou um trabalho minucioso para identificar todos os envolvidos e suas respectivas participações no crime.
Os presos e suas funções

Durante a coletiva, foram apresentados os quatro indivíduos presos e suas funções na organização criminosa responsável pelo homicídio:
- Tobias Claudino Nascimento (Mandante): Apontado como o chefe do tráfico de drogas dos bairros Serra Dourada 2, 3 e Novo Porto Canoa, mesmo estando preso desde junho de 2022 no Presídio Gabriel Ferreira Castilho, no Rio de Janeiro, por tráfico de drogas. A investigação comprovou que Tobias continuava a dar ordens de dentro da prisão, inclusive para o homicídio de Welington. Relatórios da Subsecretaria do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro indicaram a apreensão de 100 aparelhos celulares na galeria onde Tobias estava custodiado entre outubro de 2023 e março de 2025, demonstrando sua capacidade de comunicação com o exterior.
- Ruan de Freitas Camargo Cruz (Executor): Foi o primeiro a descer do veículo Toyota Yaris e efetuar disparos contra a vítima. Possuía passagens por tentativa de homicídio, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo, sendo preso em agosto do ano passado.
- Diogo Amaral (Executor): Conhecido como “Coroa”, foi o terceiro a desembarcar do veículo e também efetuou disparos. Tinha antecedentes por tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo, sendo preso em dezembro do ano passado. Era considerado um homem de confiança de Tobias e um dos braços armados do tráfico.
- Luís Felipe Souza Machado (Intermediário): Motorista de Uber, membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e natural de São Paulo, onde já havia sido preso por tráfico e porte ilegal de arma de fogo. Luís Felipe trabalhava fazendo corridas particulares para traficantes de Serra Dourada e tinha a confiança tanto da vítima quanto dos criminosos. Ele foi responsável por entregar Welington aos executores em troca de R$ 35 mil. Foi preso em São José dos Campos (SP) em 21 de março deste ano, após a prisão de Juan.
Um terceiro executor, identificado como Lucas Ribeiro Laubach, vulgo “Tuelinho”, ainda está foragido. Ele foi o segundo a descer do veículo e foi quem efetuou os disparos de rajada, conforme as imagens. Lucas também possuía um mandado de prisão por outro homicídio na Serra e fugiu para o Rio de Janeiro.

Foragido
A investigação revelou que o crime foi meticulosamente planejado. O veículo Toyota Yaris utilizado na ação era clonado e não foi localizado após o crime. Os executores saíram de Serra Dourada por volta das 10h da manhã e aguardaram a chegada de Welington próximo à casa de sua ex-esposa, no bairro Parque Residencial Laranjeiras.
Luís Felipe, aproveitando a confiança que tinha com a vítima, buscou Welington na Casa de Custódia de Vila Velha (Cascu VV), onde ele cumpria pena em regime semiaberto e estava em sua segunda saída temporária. Na primeira saída, em dezembro de 2023, Luís Felipe já havia buscado Welington a mando dos traficantes, inclusive levando armas de fogo para ele com a escolta de outros criminosos.
Na segunda saída, Luís Felipe convenceu Welington de que não havia escolta e que ele estava indo buscá-lo por conta própria. Uma familiar da vítima, que também iria buscá-lo, foi dissuadida por Luís Felipe, que alegou ser perigoso devido à falta de escolta.
Ao chegarem próximo ao local do crime, o veículo de Welington foi interceptado pelo Toyota Yaris. Ruan e Luís Felipe desembarcaram simultaneamente, e Ruan já começou a atirar na direção do carona, onde estava a vítima. Os outros dois executores também desembarcaram e efetuaram diversos disparos. Um detalhe que chamou a atenção dos investigadores foi que a porta do carona do veículo de Welington estava travada, o que impossibilitou qualquer reação da vítima.
Motivação: Guerra pelo controle do tráfico
A motivação do crime foi a disputa pelo controle do tráfico de drogas nos bairros Serra Dourada 2 e 3. Welington e Tobias iniciaram juntos no tráfico em 2000, mas tiveram um desentendimento em 2006, o que levou Welington a assumir o tráfico em Serra Dourada 3, um bairro rival de Serra Dourada 2. Em 2018, Welington tomou o controle do tráfico na Rua Gardênia, em Serra Dourada 2, intensificando a guerra entre ele e Tobias.
Para conseguir matar Welington, Tobias contou com a ajuda de Juan, que havia sido expulso do tráfico de Serra Dourada 3 e buscou o apoio de Tobias para retomar o controle do bairro. Tobias exigiu a morte de Welington como prova de lealdade, o que foi aceito por Juan. Após o crime, Tobias, Lucas e Juan assumiram o controle do tráfico em Serra Dourada 3.
O delegado-geral José Darcy Arruda destacou a importância da resolução do caso e das prisões para a segurança pública da região, ressaltando que, após as prisões, a guerra do tráfico nos bairros Serra Dourada 2 e 3 praticamente cessou.
Os quatro presos foram indiciados por homicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e emprego de arma de fogo de uso restrito) e associação criminosa, e já são réus em um processo que tramita na Terceira Vara Criminal do Júri da Serra.
A Polícia Civil continua as buscas pelo foragido Lucas Ribeiro Laubach e pelo motorista do Toyota Yaris, que ainda não foi identificado.
Fonte: Espírito Santo Notícias