Uma investigação da Polícia Federal revelou um sofisticado esquema criminoso que utilizava farmácias de fachada em diversas regiões do Brasil para desviar recursos do programa Farmácia Popular e lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas. Segundo a PF, aproximadamente R$ 40 milhões foram desviados pela organização, que financiava a compra de cocaína na Bolívia e no Peru.
A fraude envolvia o uso indevido de CPFs e endereços de pessoas inocentes, além da compra e venda de CNPJs por meio de laranjas. A apuração teve início após a apreensão de 191 quilos de drogas em Luziânia (GO) e se estendeu a estados como Pernambuco, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Em Águas Lindas de Goiás, moradores do bairro Portal da Barragem descobriram que duas farmácias inexistentes, registradas em seus endereços, haviam recebido juntas quase R$ 500 mil do Farmácia Popular. “É uma tremenda sacanagem”, disse uma moradora ao saber que sua residência constava como sede de uma farmácia que recebeu R$ 329 mil.
As investigações apontam que o esquema era comandado por Fernando Batista da Silva, conhecido como “Fernando Piolho”, que teria usado o nome da filha para abrir empresas e movimentar recursos de origem criminosa. A Polícia Federal apura ligações de Fernando com integrantes do Comando Vermelho e com membros do Clã Cisneros, organização peruana ligada à produção de cocaína.
A quadrilha utilizava os recursos desviados do programa para financiar o tráfico e camuflar o lucro obtido com a venda de entorpecentes. Farmácias registradas em terrenos baldios, como uma em Campo Belo (MG) com número de telefone de João Pessoa (PB), ilustram o grau de falsificação utilizado no esquema.
O superintendente da PF no Distrito Federal, José Roberto Peres, afirmou que a organização utilizou o programa social como instrumento de lavagem de dinheiro. “Ela passou a usar o Farmácia Popular para investir no próprio tráfico de drogas”, destacou.
Além do prejuízo ao erário, o golpe afetou diretamente cidadãos. O dentista Gustavo, de Sumaré (SP), descobriu que seu CPF foi usado para retirar mensalmente até 20 caixas de insulina, mesmo nunca tendo sido diagnosticado com diabetes. A fraude foi registrada na Drogaria PHS Ltda., em Minas Gerais.
Francisca Ferreira de Souza, registrada como dona de cinco farmácias em estados diferentes, é uma das principais investigadas. Ela reside em uma casa simples em Luziânia (GO), mas movimentou quase R$ 500 mil com uma única drogaria. Seu marido, Brazilino Inácio dos Santos, é apontado como sócio de dez empresas envolvidas no esquema, que juntas movimentaram R$ 2,5 milhões entre 2018 e 2019.
A Polícia Federal ainda apura o envolvimento de outros nomes, como Célia Aparecida de Carvalho e Adriano Rezende Rodrigues, o “Adriano Tatu”, sócio de uma farmácia em Cerquilho (SP) que recebeu quase R$ 1 milhão do Farmácia Popular.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 140 mil tentativas de fraudes são barradas diariamente no sistema do programa. A PF estima que a quadrilha tenha utilizado ao menos 160 mil CPFs e 148 farmácias, entre reais e fictícias, para aplicar o golpe.
As investigações continuam e outras prisões não estão descartadas.
Fonte: G1