O ato de brincar, além de proporcionar diversão, é essencial para o desenvolvimento infantil, estimulando a criatividade, a socialização e habilidades emocionais. Em Juiz de Fora (MG), o aposentado Geraldino Leandro Antunes, morador do Bairro Santa Luzia, encontrou nas pipas uma forma de promover tudo isso — longe das telas dos celulares.
Conhecido carinhosamente como “Vovô das Pipas”, Geraldino produz artesanalmente os brinquedos e os distribui gratuitamente para crianças. A atividade, que começou como uma forma de entreter os netos, rapidamente se transformou em uma ação social com impacto na comunidade.
“Desde a roça eu fazia pipa para brincar. Depois de aposentado, comecei de novo, para mostrar aos meus netos o que é ser criança”, contou.
Hoje, suas criações encantam crianças e adolescentes de 3 a 17 anos atendidos pelo projeto social Alto Falante, criado por seu neto, o artista Yhan Campos. “Ele personaliza cada pipa. Isso cria uma conexão única com cada criança. Elas se animam e redescobrem formas de brincar que, na verdade, nunca deveriam ter sido esquecidas”, destaca Yhan.
O gesto simples de Geraldino já alcançou outros bairros da cidade, ajudando a preservar uma prática que está se perdendo com o uso cada vez mais precoce de celulares entre as crianças. “Hoje em dia, você vê criança pequena já com celular na mão. Elas não olham pra você, não te veem. O celular tomou conta”, lamenta o aposentado.
Uso excessivo das telas preocupa especialistas
Dados do IBGE apontam que 84,2% das crianças entre 10 e 13 anos usavam a internet em 2024. Já uma pesquisa de 2022 revelou que 92% da população entre 9 e 17 anos acessava a internet, principalmente pelo celular.
A psicóloga infantojuvenil Larissa Assis alerta que o uso exagerado das telas pode prejudicar o desenvolvimento infantil. “Mesmo com jogos educativos, o uso precisa ser equilibrado. A criança precisa do brincar livre, com a natureza, com amigos, do jogo coletivo. É ali que ela aprende empatia, cooperação e desenvolve estratégias sociais”, explica.
Segundo ela, o uso excessivo pode provocar agressividade, dificuldade de regulação emocional e problemas na linguagem. “Crianças muito expostas às telas tendem a ter baixa tolerância à frustração, ficam entediadas com facilidade e pedem por telas o tempo todo”, conclui.
Enquanto isso, ações como a de Geraldino Antunes mostram que é possível reconectar a infância com experiências mais simples e, ao mesmo tempo, mais ricas.
Fonte: G1